A pergunta te assusta? Ou te traz um estranho alívio? Talvez porque, no fundo, você já saiba a resposta. Você a vive todos os dias.
Você a vive quando, ao sentir uma ponta de tristeza, sua mão busca o celular quase por instinto. E de repente, quinze minutos se passaram em um feed infinito. A tristeza? Soterrada.
Você a vive quando, após um dia exaustivo, o cansaço real se mistura com uma angústia sem nome, e a resposta é mais um episódio daquela série. Qualquer coisa para não ter que ficar em silêncio com o que pulsa aí dentro.
Você a vive quando alguém pergunta “tudo bem?” e o “tudo” sai da sua boca como um reflexo, enquanto seu corpo grita em silêncio que não, não está tudo bem.
A verdade é que montamos uma fortaleza impressionante para nos proteger de nós mesmos. E somos arquitetos geniais.
As armaduras que vestimos todos os dias
Ninguém decide conscientemente: “hoje, não vou sentir”. A fuga é mais sutil. É uma armadura que vestimos peça por peça, tão cedo na vida que acabamos por acreditar que ela é a nossa própria pele.
A Armadura da Produtividade, que nos convence de que não há tempo para sentir. A lista de tarefas é mais importante. O trabalho é mais urgente.
A Armadura do Intelecto, que analisa e rotula cada emoção até que ela se torne um conceito frio, e não uma onda de calor ou um nó na garganta. Falamos sobre a raiva, mas não nos permitimos senti-la.
E a mais comum, a Armadura do Ruído. O barulho constante para garantir que o silêncio — o lugar onde as verdades do corpo costumam sussurrar — nunca tenha a chance de se instalar.
Seu corpo não te traiu. Ele aprendeu a sobreviver.
Aqui está a parte mais importante: essa armadura não é um sinal de fraqueza. É um monumento à sua incrível capacidade de sobrevivência.
Houve um tempo em que sentir era perigoso demais. Talvez na infância, quando uma emoção sua não foi acolhida. Talvez em um trauma, onde desligar o corpo foi a única maneira de sobreviver. Seu corpo, em sua infinita sabedoria, aprendeu que fechar as comportas era mais seguro do que se afogar. Ele foi seu soldado mais leal.
O problema é que a guerra acabou. E o soldado continua de guarda.

O preço da segurança
A armadura que um dia te salvou, hoje te aprisiona. A mesma muralha que te protege da dor também te impede de sentir a alegria que expande o peito. A vida vira um filme assistido através de um vidro grosso. As cores são mais pálidas. Os sons, mais distantes. O preço da segurança é a vitalidade.
Uma fissura na armadura
Ninguém consegue derrubar uma fortaleza da noite para o dia. O convite é outro. É notar, talvez pela primeira vez, uma única e minúscula fissura.
Não é sobre mergulhar de cabeça na dor. É sobre se permitir sentir, de verdade, o calor do sol na sua pele por três segundos. É sobre sentir o gosto real do primeiro gole de água. É sobre, por um instante, apenas um, voltar para casa.
E essa casa, a única que você realmente tem, é o seu corpo.
O que pulsa em você agora?
Se este texto abriu uma pequena fresta, respire nela. A jornada para dentro não tem um destino final, apenas próximos passos. E eles devem ser dados com a mesma gentileza que você dedicaria a um soldado cansado que finalmente pode descansar.
Se o seu próximo passo é entender o mapa que descontrói as mentiras sobre o retorno ao corpo, você pode começar por aqui: Tantra não é o que te venderam.
Se a história de quem já fez essa travessia pode servir como luz no seu caminho, talvez queira se sentar com este relato: Voltar para o corpo: uma história de reconexão.
Ou, se o seu sentir apenas pede para continuar neste território, sem pressa, a porta de entrada para outras explorações é Onde a Vida Acontece.
O caminho é seu. A escolha, também. Com presença e com coragem.