Você tem suas técnicas, seus mapas, seus óleos. São adereços no palco. No instante em que a porta se fecha e você está diante da vulnerabilidade nua de outro ser humano, você só tem uma ferramenta: você.
E a qualidade dessa ferramenta se mede em uma única dimensão: sua presença.
Mas a “presença amorosa” tornou-se um clichê. É preciso resgatá-la da superficialidade, lembrando o que ela é ao nos lembrarmos do que ela não é.
Não é pena. A pena te coloca acima; a presença se senta ao lado, no mesmo chão, sem medo de se sujar com a poeira da humanidade do outro.
Não é simpatia. A simpatia se afoga junto; a presença é a âncora firme na tempestade do outro, oferecendo estabilidade, não mais caos.
Não é projeção. Sua tarefa não é “enviar luz”; é ser a lâmpada estável que ilumina o cômodo para que o outro possa encontrar o próprio caminho no escuro.
Então, o que ela é?
1. É a coragem de não desviar o olhar.
É a capacidade de testemunhar a dor, o vazio, a raiva ou o êxtase do seu cliente sem vacilar. Sem a necessidade de consertar, apressar ou traduzir. É oferecer seu sistema nervoso como um campo seguro onde todas as experiências dele são bem-vindas. Sua calma é o que dá ao outro permissão para existir. E essa calma é nutrida pelas chaves que te acessam em seu próprio agora.
2. É o amor manifestado como respeito feroz.
Na nossa prática, amor não é afeto. Amor é a clareza dos limites. É a prática da ética como o ato supremo de cuidado. É o “não” que protege. É a firmeza que cria o vaso sagrado onde a intimidade de cura pode florescer, livre das nossas próprias carências.
3. É a humildade de ser um canal, não a fonte.
A cura não vem de nós. Ela vem da vida que pulsa no cliente. Nós não somos a chuva; somos o jardineiro que remove as pedras para que a chuva possa penetrar a terra. Presença amorosa é a sabedoria de criar as condições ideais e, então, sair do caminho.
Sua presença não é um dom. É uma prática diária. É o resultado da sua própria coragem de se encontrar, repetidamente.
Portanto, afine sua única ferramenta. Antes de cada sessão, antes de estender a mão para tocar uma história, recolha-se. Volte para casa. Aterre em si mesmo.
É o maior, mais potente e único presente que você pode verdadeiramente oferecer a quem te confia a própria alma.