Existe uma dor particular que visita nas tardes de domingo. Uma fenda no peito. Uma inquietação nos dedos. A sensação de que algo, ou alguém, está faltando.
Nós a chamamos de solidão. E nossa cultura a trata como uma falha. Um sinal de que não somos amados, interessantes ou conectados o suficiente.
E por doer tanto, nós fugimos. Preenchemos o silêncio com o ruído da TV, o tempo com tarefas, o corpo com encontros vazios. Apenas para não ter que encarar a vastidão do nosso próprio espaço interno. E como já vimos, sentir tudo isso é, de fato, muito difícil.
Mas as fugas, em algum momento, perdem a força. A série termina, o outro vai embora. E nós ficamos. A sós com o grande vazio.
É aqui, neste lugar que tanto tememos, que se esconde o portal. Este momento não é o seu fracasso. É o seu convite mais sagrado.
A Alquimia: De Vazio a Espaço
O que diferencia um “vazio” assustador de um “espaço” sagrado? Apenas uma coisa: a qualidade da sua presença.
O vazio é o eco da mente correndo pelas paredes da casa, procurando uma saída, qualquer saída. Ela julga o silêncio como tédio, a quietude como estagnação.
O espaço é o que emerge quando, em vez de correr, nós pousamos. Quando usamos as chaves da respiração e do toque não para chegar a algum lugar, mas para simplesmente estar aqui. Quando a atenção pousa na sensação do ar no corpo, no peso das mãos sobre as pernas.
Nesse momento, a alquimia acontece. O vazio, que era uma ausência perfurante, se revela como uma presença. A sua. E se torna espaço sagrado.
O Encontro no Centro do Espaço
E o que encontramos neste espaço? O eco das nossas emoções não choradas. A sabedoria silenciosa do nosso corpo. Os rascunhos de sonhos que abandonamos pela metade. As perguntas que realmente importam.
Descobrimos, então, que a companhia que buscávamos desesperadamente lá fora já existia aqui dentro. A solidão deixa de ser a ausência do outro e se torna a presença de si mesmo.
Aprender a habitar a própria solidão não é um prêmio de consolação. É o fundamento da verdadeira intimidade consciente. Pois só quem não tem medo de ficar só consigo mesmo pode se encontrar com o outro por pura escolha, e não por pura necessidade. Só quem já se sente em casa pode, com verdade, convidar alguém para entrar.
A próxima vez que a solidão bater à sua porta, respire. Abra-a. Sirva um chá. E pergunte, com a curiosidade de quem recebe um mestre há muito esperado: “O que você veio me mostrar sobre mim hoje?”.
Talvez você descubra que ela não veio para te assombrar. Veio para te apresentar a você mesmo.